Opinião em Foco: Taxistas x Uber - uma guerra onde quem sai perdendo é o passageiro

Taxistas atacam um motorista do Uber na frente do Hotel Unique
(foto: Chello/Futura Press)


Um assunto que ultimamente tem causado bastante repercussão - e é o centro de uma polêmica enorme - é a guerra declarada pelos taxistas aos motoristas a serviço do aplicativo Uber.
O Uber é um aplicativo administrado por uma empresa que atua em diversos países do mundo (de forma bem-sucedida, inclusive), e que está no Brasil há pouco tempo - cerca de um ano, mais ou menos. O conceito da empresa é, a um custo abaixo do convencional, oferecer o serviço de um motorista particular - como um desses que transporta autoridades e pessoas ricas e importantes. A qualidade do serviço prestado por estes motoristas, aliada ao baixo custo do mesmo, logo se tornou um sucesso de público - o que deixou os tradicionais motoristas de praça com a pulga atrás da orelha.

O problema é que a coisa foi levada ao extremo. Casos de violência praticada por taxistas contra motoristas do Uber tornaram-se frequentes - especialmente aqui em São Paulo. E as autoridades municipais parecem estar batendo cabeça, perdidas, sem saber que posição tomar em relação ao tema.
Em meados do ano passado, a Câmara Municipal aprovou, por maioria de votos, uma lei que proibia o uso do Uber e de similares na cidade - esta lei não chegou a ser sancionada pelo prefeito Fernando Haddad (PT-SP).
Aliás, Haddad parece (vejam bem: eu disse "parece"...) demonstrar uma posição favorável à regulamentação do Uber, e no último dia 28/01, chegou a declarar à imprensa que "os taxistas vão desaparecer pela concorrência predatória, caso não aceitem a regulação do transporte individual" e que não seria possível fiscalizar e autuar os motoristas do Uber porque "não há como fiscalizar uma nuvem".
Tal declaração do prefeito irritou um dos sindicalistas da categoria dos taxistas, o sr. Antônio Matias, presidente do Simtetaxi (Sindicato dos Trabalhadores das Empresas de Táxi de São Paulo), que horas depois da declaração de Haddad, publicou o seguinte vídeo nas redes sociais:


Nitidamente, percebe-se o tom de agressividade do presidente do Simtetaxi - especialmente, quando ele afirma de forma categórica que "a Uber não vai trabalhar em São Paulo" e finaliza com a frase: "Acabou a palhaçada. Agora é cacete!". E ainda, quer bater de frente com o prefeito. Não que eu simpatize com o prefeito Fernando Haddad (pelo contrário: acho que ele tem feito muita besteira pela cidade... pra não dizer outra coisa), mas, francamente... cadê o respeito à autoridade? E indo mais além... cadê o respeito ao público, que é o mais interessado da história toda?! Coincidentemente, no mesmo dia em que o sr. Matias fez estas declarações, um motorista do Uber foi atacado por taxistas na porta do Hotel Unique, localizado na região do Itaim Bibi, uma área nobre de São Paulo. E vídeos de taxistas perseguindo os motoristas do aplicativo - e ainda se vangloriando do que estavam fazendo - foram veiculados pela imprensa.

E no meio disso tudo, eu pergunto: cadê o bom senso? O que será que os taxistas acham que vão ganhar partindo pra violência desse jeito? Será que não seria mais simples melhorar a qualidade do serviço de táxi, ao invés de aturarem como se fosse uma máfia, de dar inveja à Yakuza e ao PCC?!
O pior de tudo, é que tem gente da esfera do poder que apoia ações como essas: é o caso do vereador de São Paulo Adilson Amadeu (PTB-SP), que defende os taxistas com unhas e dentes. Diga-se de passagem, o vereador Amadeu é proprietário de uma agência de despachos localizada na região do Brás, no centro da capital paulista - uma relação, no mínimo, suspeita.

Obviamente, não vou generalizar. Eu creio que existem taxistas que trabalham de forma franca e honesta, sem compactuar com essas barbaridades. Mas, como em todo meio que se preze (incluindo a fotografia, que é minha área de atuação), existem as laranjas podres. E o meio dos taxistas deve estar cheio delas. Porque, se uma parte dessa categoria age dessa forma bárbara diante de uma iniciativa inovadora que é o Uber, certamente é porque alguma coisa estranha tem.
Ah, sim... no vídeo, o sr. Antonio Matias acusou o departamento de fiscalização da Prefeitura de ser "corrupto". Mas cá entre nós, sr. Matias, com a corrupção tão bem consolidada em todas as esferas deste país - desde a presidência da República até a mais modesta das agremiações - será que ao menos uma parcela do meio dos taxistas não é corrupta? Será que não existem, por exemplo, esquemas ilegais de venda de alvarás de táxi, que movimentam quantias generosas de dinheiro? Será que as agências de despachos (como a do vereador supracitado) também não usam os taxistas para obter algum tipo de vantagem que seja?
Antes de quererem acabar com a concorrência no cacete, como mencionado no vídeo, olhem para o próprio umbigo. Esses dias mesmo, um amigo meu de longa data, com quem inclusive tive a honra de colaborar dentro do JWave, mencionou nas redes sociais ter pêgo um táxi na volta da Campus Party (um evento grande de tecnologia que sempre acontece no início do ano, aqui em São Paulo), e recebido um péssimo tratamento por parte do motorista - que inclusive fez questão de falar mal dos frequentadores do evento, fazendo insinuações de caráter homofóbico. É assim que o taxista trata o passageiro hoje em dia? Se for, a categoria deveria se envergonhar. Quem é que vai querer andar com uma pessoa que não tem educação e respeito pelos outros?

No fim, quem decide se o Uber fica ou não em Sampa, não são os taxistas, nem as autoridades. É o povo. É o usuário. É o passageiro. Porque até onde eu saiba, salvo engano, ainda estamos numa democracia - e as pessoas tem o direito de escolher o que é melhor para elas. Inclusive, se querem andar de táxi ou de carro do Uber.
É uma questão tão simples... qualquer um que tenha um mínimo de noção de mercado sabe: é a lei da oferta e da demanda. Se um serviço ou produto é bom, a pessoa usa; mas se ela encontra um produto ou serviço de qualidade superior (e também com um custo mais baixo), ela fatalmente passa a usar este segundo produto ou serviço. E o que as empresas fazem para manter seus consumidores, e não perdê-los para a concorrência? Simples: analisam os pontos fortes e fracos do produto ou serviço e tornam o produto ou serviço melhor (ao invés de pegarem o concorrente de cacete). É uma questão de inteligência... e não de porrada.
O que os taxistas deveriam fazer para confrontar o Uber é isso: pensarem como empresa, ao invés de pensarem como máfia. Pararem de ser intolerantes e fascistas, e aceitarem o fato de que os tempos mudam - hoje em dia, se resolve praticamente tudo na tela de um smartphone - e se adaptarem a esses novos tempos. Tratem o passageiro com mais educação e respeito. Flexibilizem o pagamento - hoje em dia quase todo mundo usa cartão de crédito ou débito. Conservem melhor os seus carros... entre outras coisas.
Só oferecendo um serviço melhor e de qualidade superior é que vocês vão conseguir confrontar o Uber com dignidade... e não na base da violência. Mesmo porque, agressão e formação de quadrilha são crimes previstos em lei. E dão cadeia.

Mas no fim das contas, quem decide é o passageiro: se ele quiser andar de táxi, ele pega um táxi; se ele quiser usar um carro do Uber, ele chama um motorista do Uber.
E com essa guerra que aí está, todos saem perdendo. Não só os motoristas do Uber e os taxistas... mas principalmente, o passageiro.


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