Exposição "A Valise Mexicana" na Caixa Cultural SP

(fotos: Daniel Ramos)

Terminou no último domingo (03/10) a exposição "A Valise Mexicana", que estava em cartaz na Caixa Cultural.
A exposição trouxe ao público os negativos de Robert Capa, Gerda Taro e David "Chim Seymour, referentes à cobertura da Guerra Civil Espanhola (1936-1939), que foram considerados perdidos por décadas - até a sua descoberta na Cidade do México, em 2007.
Antes do término da exposição, eu estive lá pra conferir.


Robert Capa (1913-1954) é considerado como o pioneiro do fotojornalismo de guerra.
Entre seus trabalhos mais importantes, além da Guerra Civil Espanhola, estão as coberturas da Guerra Sino-Japonesa, de conflitos europeus na Segunda Guerra Mundial (como a batalha da Normandia, por exemplo) e da Guerra Árabe-Israelense.
Húngaro de origem judaica (Robert Capa, na realidade, se trata de um pseudônimo - seu nome verdadeiro era Endre Ernö Friedmann), estudou e começou a trabalhar com jornalismo na Alemanha. No entanto, com a ascensão do nazismo, teve que deixar o país nos anos 1930.
Capa é autor da frase que diz: "Se sua foto não ficou boa, então você não chegou perto o bastante".

Publicações e documentos da época também foram expostos


Gerda Taro foi companheira de Capa, tanto de trabalho como afetivamente. Juntos, os dois produziram várias fotos do conflito na Espanha, deflagrado por uma tentativa de golpe de estado do general Francisco Franco, que posteriormente, recebeu apoio de Hitler e Mussolini.
Gerda acabou perdendo a vida durante a cobertura do conflito, atropelada por um tanque durante a batalha de Brunete, em 1937.




Mulher amamentando durante um comício: imagem
icônica de David Seymour

Mas foram os retratos do polonês naturalizado americano David Seymour (conhecido também como "Chim") que abriram a exposição da Caixa Cultural - a exposição tinha início no segundo andar do complexo da Caixa Cultural.
Enquanto Capa e Taro se concentraram nos fronts de batalha, Chim se preocupou em retratar as pessoas e o cotidiano.
Uma imagem marcante de Chim é a de uma mulher amamentando o filho durante um comício dos republicanos (os opositores do general Franco).


Em cada parte da exposição, além das fotos impressas, era possível também conferir as folhas de contato impressas a partir dos negativos, com todas as sequências de fotos das quais as imagens foram extraídas - para ver a imagem com mais detalhes, uma lupa estava disponível ao lado de cada uma das sequências.
Publicações da época, onde as fotos foram veiculadas, também estavam expostas, juntamente com documentos raros.

Os registros mais impressionantes de Capa e Gerda Taro estavam expostos na segunda parte da mostra, alocada no primeiro andar do prédio da Caixa Cultural.
Entre elas, imagens de um necrotério onde foram alocados corpos de vítimas de um bombardeio, produzidas por Taro - além de seus últimos registros fotográficos, durante a batalha de Brunete, onde Taro acabou morta.
Além destes, os registros de um dos episódios mais significativos da Guerra: a batalha de Teruel, fotografada por Capa.
Uma lupa acompanhava cada
sequência de imagens

Mas a exposição não consistia apenas de imagens impressas - dois pequenos documentários foram exibidos ao público durante a mostra.
Um deles foi produzido pelo fotógrafo francês Henri Cartier-Bresson - que, na época da Guerra Civil, já era amigo próximo de Capa - com algumas imagens cedidas pelo próprio Capa.

Eis aqui um verdadeiro tesouro histórico, que havia se perdido durante a fuga de Robert Capa da França, e ficou desaparecido por décadas.
Hoje, o acervo da chamada "Valise Mexicana" pertence ao International Center Of Photography, sediado em Nova York - e já passou por outros cinco países, além do Brasil.

Admito que não sou lá grande fã de coberturas de guerra. No entanto, considero Robert Capa como uma referência, justamente pelo fato dele ter sido um fotógrafo à frente de seu tempo: tinha um estilo bastante agressivo, e na maioria das vezes, estava no lugar certo na hora certa.
O problema era que ele abusava da sorte - e foi durante uma de suas coberturas, na Guerra da Indochina (1954), que ele acabou encontrando a morte, ao pisar em uma mina terrestre.
Mas Capa deixou um legado, não só para a fotografia, como para a história do mundo - e boa parte desse legado se encontra nos negativos da Valise Mexicana.
Uma pena que a exposição já se encerrou... mas fica o registro.

Uma imagem da batalha de Teruel, por Capa


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